segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Paulo André sobre decisão do STJD: 'É fruto da desorganização da CBF'

No entanto, zagueiro do Corinthians evitou falar em nome do Bom Senso FC, movimento dos jogadores de futebol


Felipe Mendes - 16/12/2013 - 21:27 Rio de Janeiro (RJ)

O zagueiro do Corinthians Paulo André evitou falar em nome do Bom Senso FC sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), na noite desta segunda-feira, de punir a Portuguesa com perda de quatro pontos por conta da escalação irregular de Héverton na última rodada do Brasileirão, o que acarretou a queda para a Série B do clube paulista e manteve o Fluminense na Série A. Porém, o jogador foi bastante incisivo nas causas de toda a confusão:

- O Bom Senso trabalha com o consenso entre quase mil atletas. Temos consenso em dois temas: fair play e calendário. Eu não posso falar pelo Bom senso sobre esse tema, só posso falar por mim. Nesse caso, eu acredito que isso que aconteceu com a  Portuguesa e com o Fluminense no Campeonato Brasileiro é fruto da desorganização da CBF, é fruto da inoperância das pessoas que gerem o futebol no país e o resultado disso mais uma vez é uma decepção. A CBF é uma vergonha para o futebol brasileiro e para a história do futebol brasileiro. Não conseguir organizar o campeonato e fazer com que ele termine sem esse final triste é algo infeliz. Deixa a todos tristes e lamentamos essa postura de inficiência - desabafou Paulo André.

O jogador, que é um dos líderes do Bom Senso FC, não descartou a possibilidade do movimento discutir a questão da Justiça Desportiva brasileira como uma das bandeiras do movimento.

- Trabalhamos em uma democracia e precisamos do voto de todos para definir a posição do grupo. Sem dúvida é uma bandeira a ser levantada em 2014. Precismaos construir um projeto nesse sentido assim como sobre a violência nos estádios. O Bom Senso existe há três meses e tem lutado muito. Infelizmente a CBF e os órgãos competentes não respondem às demandas, não nos atendem e ficam fingindo que está tudo bem - disse o zagueiro.

Por fim, Paulo André acredita que a Lusa deve sim tentar recorrer da decisão:

- A Portuguesa deve seguir na sua luta. De qualquer forma, a credibilidade do Campeonato Brasileiro fica abalada. Não sei se patrocinadores e as pessoas de bem vão continuar acompanhando.

Paulo André participa na noite desta segunda do Prêmio Atitude no Esporte, organizado pela Hoopsports, empresa de marketing, no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ). Ele receberá o troféu Atitude na Vida Esportiva pela sua participação no movimento Bom Senso FC.

Fonte: LANCE!Net

Paulo André responsabiliza a CBF por fim do Brasileiro decidido nos tribunais

Um dos líderes do movimento Bom Senso FC, zagueiro lamenta rebaixamento da Portuguesa e fala em ineficiência da entidade para gerir o futebol no país


Por Matheus Tibúrcio
Rio de Janeiro

O zagueiro Paulo André, um dos principais representantes do Bom Senso FC, fez críticas à CBF ao analisar o fim de temporada do futebol brasileiro, com mudanças na tabela provocadas por decisões do STJD. O jogador, que insistiu em frisar que a sua opinião não reflete a do movimento que defende o direito dos jogadores profissionais, lamentou o rebaixamento da Portuguesa.

- Eu não represento o Bom Senso nesse tema. São linhas diferentes. Isso tudo que aconteceu com a Portuguesa, com o Fluminense e com o Campeonato Brasileiro é fruto da desorganização da CBF. O resultado mais uma vez é uma decepção. Não conseguir organizar um campeonato e fazer com que ele chegue nesse final triste e infeliz, onde estamos vendo que a Portuguesa está indo para a Segunda Divisão por esses meios. Deixa a todos tristes, e lamentamos essa postura de ineficiência - disse Paulo André, durante uma cerimônia de premiação no Rio de Janeiro.

O jogador tem sido um dos líderes das negociações com a CBF para melhoria nas condições de trabalho dos jogadores de futebol no país. Há uma semana, Paulo André participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, para tratar do tema.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Líder do Bom Senso FC, Paulo André cita amizade e inspiração em Sócrates

Em alta por conta do movimento dos jogadores, zagueiro do Timão conta histórias da relação que manteve com o símbolo da Democracia Corinthiana

Por Leandro Canônico
São Paulo

Um dos idealizadores do Bom Senso FC, movimento de jogadores em prol de mudanças no futebol brasileiro, o corintiano Paulo André está em evidência por sua postura política. Por conta disso, ele costuma ser comparado a Sócrates, ídolo do Timão e um dos líderes da Democracia Corintiana na década de 80. A relação entre eles, aliás, existiu. E foi de amizade. Desde o primeiro encontro.

– Conheci o Sócrates por causa da proximidade que tinha com sua última esposa, a Katia. O casal me convidou para jantar em Campinas, no final de 2009, e ficamos horas na mesa falando de futebol. Dali pra frente, nós mantivemos contato direto e frequente – conta o zagueiro do Corinthians.

Foto: Reprodução/Globo Esporte

Paulo André era íntimo de Sócrates, morto em dezembro de 2011, no mesmo dia em que o Timão conquistou o pentacampeonato brasileiro. Naquele mesmo ano, em fevereiro, um episódio triste na história alvinegra marcou a relação entre os dois: a eliminação precoce do clube na Taça Libertadores da América – o Corinthians caiu para o então desconhecido Deportes Tolima, da Colômbia.

Inconformado com os violentos protestos dos corintianos após a eliminação, Paulo André publicou em seu site oficial, três dias depois da derrota, um texto com o título “Verdadeiro Amor”. Nele, o zagueiro colocava em xeque o amor pelo Corinthians por parte dos vândalos que atiraram pedras no ônibus da equipe. O texto gerou muitas críticas e elogios ao jogador. Sócrates avisou que seria assim.

– Depois de tudo aquilo que passamos, de ter que sair escoltado do CT, de ter que ir deitado no chão do ônibus para não ser atingido por pedras, eu resolvi escrever um texto sobre o amor pelo clube. Mas antes liguei para o Sócrates. Ele pediu que eu enviasse por e-mail e fosse à casa dele. Cheguei lá e ele me pediu para ler um texto que ele tinha escrito sobre o amor do corintiano – diz Paulo André.

Atento, o zagueiro leu o que Sócrates tinha escrito e entendeu o recado.

– Ele não se posicionou em relação ao texto que eu publicaria no meu site, mas me mostrou algo que tinha escrito sobre o DNA do corintiano e me alertou que, independentemente da minha opinião, eu jamais poderia colocar algo acima da paixão do corintiano e que a decisão de publicar ou não seria minha – lembra.

Paulo André escolheu publicar e se assustou com a repercussão. Mas assimilou algo que Sócrates dizia nas entrelinhas durante todo o período em que tiveram contato.

– Ao longo da nossa amizade, ele me mostrou que, independentemente do lado que eu escolhesse, me posicionando ou calado, receberia críticas e elogios. Então porque não tentar fazer ou falar aquilo que eu realmente pensava? Ele me mostrou também que eu tinha de dar a minha opinião enquanto estou jogando, porque depois que eu parar ninguém mais vai querer saber o que eu penso – diz Paulo.

O zagueiro tem feito isso. Aproveita bem a visibilidade que tem como titular do Corinthians para expor suas opiniões e levar adiante projetos de melhoria para o futebol brasileiro, como o Bom Senso FC. Na linha de frente do grupo criado com o intuito de pressionar a CBF em busca de condições mais adequadas, Paulo André tem contrato até dezembro de 2014. Até lá, ele espera ver resultados concretos.

– Acho que quando nós, brasileiros, passarmos da reclamação para a ação, quando deixarmos de apontar o dedo e usarmos as mãos para construir um futebol melhor, um país melhor, as coisas serão diferentes – diz  Paulo André.

Sócrates certamente ficaria orgulhoso do seu amigo e fã.

Foto: Rodrigo Faber

domingo, 8 de dezembro de 2013

Obrigada, Tite. E volte logo!

Ontem, 07 de dezembro de 2013, foi, oficialmente o último jogo do Tite como técnico do Corinthians. Ainda estou triste de vê-lo ir embora, ainda mais da forma como está saindo, culpado da má fase do time. Não era pra ser assim. Mas o que posso fazer?

Apenas agradecer por tudo que ele fez nestes três anos maravilhosos em que transformou o Corinthians em um dos maiores times do mundo. Desejo a ele muito sucesso na nova fase de sua vida e que ele volte para o Timão para brilhar mais uma vez.



Abaixo, leia a carta que ele escreveu em homenagem aos torcedores antes do jogo contra o Náutico:

"Torcedor corinthiano,

Com você, eu tive uma grande lição.

Você, torcedor, é muito apaixonado.

Você, torcedor, é muito exigente. Cobra muito.

No entanto, agora você, torcedor, reconhece muito.

Reconhece na proporção exata do amor que você tem pelo seu clube.

Eu senti esse reconhecimento.

Tem 'Titebilidade'.

Tem fala muito.

E tem até o não falar, mas sentir.

Torcedor corinthiano, o que tu tá sentindo, eu tô sentindo também! Eu tô sentindo também!

Muito obrigado pelo reconhecimento"

Muito obrigada, professor!

sábado, 7 de dezembro de 2013

"O próximo lance é uma greve" - Entrevista de Paulo André para Veja

Confira abaixo a entrevista que Paulo André deu à revista Veja, publicada na edição de 27 de novembro, em que fala do Bom Senso F.C. 

O próximo lance é uma greve

 

O líder do Bom Senso F.C., o movimento de jogadores que pressiona a CBF por um calendário racional, diz que o "jeitinho brasileiro" foi o grande mal do futebol


Por Pieter Zalis e Alexandre Salvador

Paulo André Cren Benini é um jogador fora do padrão. Enquanto a maioria de seus colegas passa o tempo na concentração jogando videogame, ele lê Dostoievski e Voltaire, pinta e escreve. Nas horas de folga, os boleiros vão a um churrasco com pagode e Paulo André prefere os museus. Aos 30 anos, o zagueiro campeão mundial pelo Corinthians (contratado do Le Mans, da França, onde atuou durante quatro temporadas) resolveu aproveitar sua experiência na Europa e a capacidade de liderança para promover um inédito movimento de jogadores que enfrenta a sisuda e antiquada Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na organização dos campeonatos e mesmo na gestão financeira dos clubes. Entre uma partida e uma reunião, Paulo André falou a VEJA.

O que quer o Bom Senso F.C.?
Há dois pontos principais. O primeiro é a redução do número de jogos dos clubes da elite e o aumento do calendário para os times das divisões inferiores. O segundo é a implementação do que chamamos de fair play financeiro, com o objetivo de punir os clubes que gastarem mais do que arrecadarem.

Como começou esse movimento?
O Alex (meia do Coritiba) e o Juan (zagueiro do Internacional) tiveram uma primeira conversa depois de um jogo (em 1° de setembro). Soube da conversa, liguei para o Alex e em cinco minutos a gente decidiu começar um movimento. Daí, convidamos outros atletas. Vieram o Juninho Pernambucano, o Seedorf, o Rogério Ceni, o Edu Dracena, o Fred e o Elias. A queixa é geral. Há um sensação unânime. Quem volta da Europa vê que o potencial humano no Brasil é gigantesco, mas que a estrutura está emperrada, enferrujada. A gente tem tudo neste país, por que não explorar melhor?

Nas mais recentes rodadas do Campeonato Brasileiro, os jogadores entraram em campo com faixas e ficaram parados por alguns segundos depois do apito inicial do juiz. Quais são os próximos protestos?
A ideia é aumentar gradativamente enquanto não houver uma resposta da CBF às nossas exigências. O jogo do Flamengo com o São Paulo (em 13 de novembro, quando os jogadores adversários ficaram trocando passes de um lado para o outro do campo por um minuto) foi marcante. O torcedor claramente entendeu e apoiou. 

Os jogadores podem entrar em greve?
É uma possibilidade real. Não é um absurdo se resolvermos parar. A gente espera que a CBF apresente uma proposta que seja benéfica para o futebol. Senão, não há muito que fazer além da greve. As ameaças de punição não vão nos deter.

A greve pode ocorrer ainda neste campeonato?
A CBF não acredita na força do nosso movimento. Eles estão nos testando e vamos aumentar o tom. Nas próximas rodadas, os jogos começam no mesmo horário, o que aumenta a repercussão do que fizermos. O risco de greve é muito grande. Já no deram a ideia até de cada time fazer um gol contra de propósito. Mas isso seria inaceitável pelo desrespeito com o torcedor. Aceito desafiar os poderosos, mas não desmoralizar o futebol.

Como vocês combinam as ações?
Há 150 jogadores que trocam mensagens pelo WhatsApp. Hoje mesmo (sexta-feira) trocamos mais de 200. 

O jogador hoje é mais consciente?
No geral, o jogador tem mais acesso à informação. Ainda há medo de se posicionar e sofrer retaliação da torcida, da diretoria e das entidades, mas entre os jogadores há muita discussão sobre os problemas do futebol. Entretanto, pelo medo de retaliação e por historicamente a classe ser desunida, é difícil o jogador se expor em público. 

Os líderes do Bom Senso F.C. são atletas em fim de carreira. Os novos estão com medo ou foram orientados a não protestar?
Os dois. Os jogadores que começaram a reclamar do calendário foram aqueles que passaram um tempo na Europa e voltaram para o Brasil. A pergunta que todos fazem é: "Como é possível eu ter saído daqui há tanto tempo e nada ter melhorado?" Começamos a conversar e perceber a evidente precariedade do futebol do nosso país. Por terem uma condição financeira melhor, os mais velhos são o carro-chefe do grupo. Os mais novos estão sempre mais expostos a retaliações. 

A CBF atrapalha o futebol brasileiro?
A Fifa sabe que seu papel é vender futebol. Percebeu que para ganhar mais dinheiro é preciso qualificar o produto. Então, começou a cuidar do gramado, do estádio, da qualidade dos times. É o padrão Fifa. Na Uefa é a mesma coisa. É uma entidade que organiza a Champions League e a Euro e decidiu dar prioridade à capacitação de treinadores. Porque são eles os formadores dos atletas, que vão desenvolver o futebol-arte e, assim, atrair público para o espetáculo. Dessa forma, a Uefa ganha mais dinheiro. Já a CBF não faz nada para melhorar a qualidade do que vende. Nada. A CBF não entende que o ingresso está caro para o jogo que está sendo vendido. A CBF ganha milhões com a seleção, com os patrocínios e, segundo ela, não ganha nada com o Campeonato Brasileiro. Talvez seja por isso que ela não se interesse em fazer um campeonato que propicie um futebol de qualidade. Os gramados são horríveis, os antigos estádios estão péssimos. Tem jogo todo dia na televisão sem o menor critério de qualidade. Só quantidade. Seria fundamental adotar o modelo inglês, em que a confederação cuida da seleção e a liga, de clubes dos campeonatos.

A Rede Globo tem interesse nessa mudança?
A Globo tem diálogo total com o movimento. Eles estão sendo solícitos e são os mais preparados para a discussão do novo calendário. A Globo aceita que não haja mais futebol em janeiro. Como a audiência nesse mês é baixa, e melhor aumentar a pré-temporada. Eles estão no direito deles, de lucrar com o futebol. O problema é a CBF, que não defende o futebol. 

Um caminho seria limitar o mandato dos dirigentes das entidades esportivas?
Sim. A democracia e a alternância de poder são fundamentais para qualquer instituição. A medida provisória que prevê o direito a apenas uma reeleição nas federações que usam dinheiro público é crucial. O direito a voto direto dos atletas também tem o apoio Bom Senso F.C. 

Como respondem à crítica de que vocês querem jogar menos e ganhar a mesma coisa?
Essa é a maior inverdade. Reduzindo o número de jogos, o espetáculo fica melhor e o interesse do público aumenta. A gente busca o bem do futebol, não nosso conforto. Queremos reduzir o limite anual máximo de jogos para 73. Hoje, o Campeonato Brasileiro tem 38 jogos, a Copa Libertadores catorze, ou dezesseis se a equipe tiver de disputar a pré-Libertadores. Ainda há a Sul-Americana e a Copa do Brasil. Antes de tudo isso, os times têm de disputar os campeonatos estaduais. Para fazer um estadual com um mínimo de charme, uma das propostas é a redução de dezenove para sete jogos, com as mesmas regras da Copa do Mundo. Nesse formato, mesmo um estadual com 32 times pode ter um campeão definido em apenas um mês. No caso de clubes menores, da terceira à quinta divisão do Brasileiro, o problema é o oposto. Eles precisam de mais jogos. É a única maneira de sobreviverem.

Os jogadores aceitam ganhar menos para que os clubes reorganizem suas finanças?
Sim. O movimento defende a implantação do fair play financeiro, que pode resultar na redução dos altos salários dos jogadores. O clube terá de apresentar a cada três meses uma comprovação do pagamento de todas as suas obrigações, correndo o risco de ser suspenso se estiver inadimplente. Para conseguirem isso, alguns times deverão contar com elencos mais baratos. O torcedor e os atletas terão de entender que esse é o preço a ser pago para que o futebol brasileiro se reorganize.

O que, nos serviços brasileiros, tem padrão Fifa?
De padrão Fifa não temos nada. A CBF é padrão "jeitinho brasileiro". 

É bom para o Brasil sediar a Copa do Mundo?
Quando foi anunciada a Copa com dinheiro privado, eu comprei a ideia. Hoje, vejo que 90% dos estádios utilizaram dinheiro público. Percebi que não foi cumprido o combinado. A Copa mexe com o imaginário, desde 1950 o Brasil sonhava em sediar mais uma. Mas havia outras prioridades para o uso desse dinheiro. Era melhor investir em educação de qualidade, saúde pública decente, transporte melhor. Se fosse a Copa do dinheiro privado, não teria problema. Como não foi, lamento a gastança na construção dos estádios.

Existe corrupção no futebol?
Sim, assim como na sociedade. Se não houver regulação e fiscalização, haverá desvio.

O futebol brasileiro está decadente?
Está em crise desde 2002. As vitórias tapam os erros e as péssimas administrações. O Brasil corre o risco de ganhar a Copa, mascarar os problemas estruturais e só voltar a essa discussão em dois ou três anos. Mesmo assim, torço para que o Brasil erga a taça e o futebol melhore. As duas coisas juntas seriam o verdadeiro legado da Copa.

Como é a rotina de um jogador de primeira divisão?
Desde os 20 anos eu não vou nem a casamento de amigo. Toda sexta, sábado e domingo estou concentrado ou jogando. Desde que sou atleta, não viajo no fim de semana, não sei o que é feriado, não sei o que são dois dias de folga seguidos. O torcedor, como só vê o time nos dias de jogos, na quarta e no domingo, acha que trabalhamos pouco. É ilusão pensar que todo jogador é milionário. Só 3% dos profissionais recebem bem a ponto de poder encerrar a carreira aos 35 anos e viver de renda. Para 97%, a vida é atribulada e não dá chance de poupar para o futuro.

A vontade de jogar uma partida de primeira fase de estadual é a mesma que se tem em um jogo de Libertadores?
Nem se compara. Tem dia que você vai para o jogo e o último lugar que queria estar é no gramado. É um sentimento inconsciente, claro, muito em razão da pressão psicológica sofrida o ano todo. Fizemos um levantamento de mostra que o jogador de um grande clube brasileiro tem vinte dias de folga no ano. Já o trabalhador comum tem 52 fins de semana. Ou seja, mais de 100 dias. E nossos vinte dias são afetados pela pressão que sofremos, por resultados, pelas críticas, por caras que atiram rojões ou pedras contra nós.

A concentração é necessária?
Não, mas para mim acabou sendo útil. Uso o tempo da concentração em coisas produtivas, como escrever meu livro. Os caras achavam que eu estava ficando louco, não saía do quarto. Já pintei quadros, vi muito seriado. Agora gasto o tempo fazendo essa agitação do Bom Senso F.C.

Qual a diferença do cotidiano de um jogador no Brasil e na França?
Aqui, chego na sexta-feira às 15h30 para treinar e só volto para casa no domingo à noite, depois do jogo. Mesmo que eu fique em bom hotel, são dois dias e meio concentrado. Como jogo duas vezes por semana, são 160 dias do ano concentrado. Na Europa, eu me apresentava na hora do almoço, descansava e jogava à noite. Não tem concentração. Há ainda o exagero das viagens. Lá, a média de um time é viajar  8.000 quilômetros por temporada. Aqui, os grandes times de São Paulo voam 35.000 só nos campeonatos estaduais. A queda de rendimento é inevitável.

Você pinta e escreve. De onde veio essa motivação?
Quando jovem, fui estudar porque achava que não seria jogador. Mas virei profissional no Guarani, ganhei meu dinheiro, fui para a França. Lá, machuquei o joelho e fiz três cirurgias. Fiquei um ano e meio parado. Aí decidi voltar a estudar, fui ler filosofia e psicologia, porque estava com depressão. Li tudo de Dostoievski, tudo de Voltaire. Fiz curso de educação financeira. Fui ao Louvre e achei tão incrível que resolvi pintar. Não entendo de arte. Aquilo começou como um hobby para acabar com a minha dor.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Paulo André cita rato em São Januário e discute com Eurico Miranda em simpósio

Luiz Ricardo Fini
São Paulo (SP)


Eurico Miranda chegou atrasado ao simpósio promovido pela Federação Nacional de Atletas Profissionais e, em seu primeiro discurso, afirmou que não queria participar do debate, deixando claro ainda suas divergências com o Bom Senso FC. Já quando o zagueiro Paulo André se manifestou defendendo o grupo, o ex-presidente vascaíno ameaçou ir embora do auditório do Museu do Futebol, no Pacaembu.

O representante do Bom Senso discutiu com o conselheiro cruz-maltino em vários momentos da conferência. Mas o que deixou Eurico Miranda mais irritado foi ouvir de Paulo André a acusação de que existiam ratos nos alojamentos de São Januário na época em que o zagueiro passou pelo clube, justamente durante a gestão do ex-deputado.

“Ar condicionado é um luxo que não é necessário, mas passei três meses no Vasco em 2002 e morei com rato e barata”, afirmou o atleta, ironizando declaração anterior de Eurico, que afirmou que o Bom Senso está defendendo apenas a elite do esporte e está mais preocupado em ter quartos climatizados. Ao ouvir a declaração do zagueiro, o ex-dirigente quase saltou de sua poltrona e, sem microfone, gritou para ser ouvido.

“Você está com sua visão deturpada e está desrespeitando o Vasco”, bradou Eurico, sendo orientado pelos organizadores a esperar sua vez para se pronunciar, ouvindo ainda Paulo André reiterar suas declarações. “Respeito o Vasco, sua torcida, seus títulos e sua história. É um clube importantíssimo. Estou falando da experiência que eu vivi, mas é a realidade de outros também”.

Ao chegar sua vez de falar, Eurico Miranda foi contundente nas críticas ao zagueiro. “Sinceramente, gostaria de ter ido embora, porque o que ouvi é uma ofensa gravíssima a uma instituição centenária. O Vasco não formou Paulo André, mas sim uma relação de jogadores como Romário, Edmundo e uma centena que não tem nada a ver com Paulo André. Não vem ele aqui ser referência, porque tenho de futebol o que ele não tem de idade. Teve a oportunidade rara de ir para uma divisão de base do Vasco e diz que viu rato? Pode ver rato na praia, na casa dele ou em qualquer lugar, mas não lá”.

Desde o início de sua participação, Eurico Miranda se mostrou bastante crítico ao Bom Senso FC, alegando que o movimento defende os interesses apenas de uma minoria. Apesar de Paulo André ter dito que as ações buscam os benefícios aos times do interior, o ex-presidente vascaíno manteve sua posição.

“Este discurso é demagógico, porque não querem saber daqueles que sofrem. Não querem saber dos 90% que botam salário de R$ 1 mil. Para chegar a R$ 1 milhão, são mais de 80 anos. Isso é uma ofensa ao cidadão. Há treinador que ganha R$ 700 mil, R$ 800 mil”, reclamou.

Antes do fim do evento, com os ânimos mais calmos, Eurico Miranda se retirou, alegando que teria de voltar ao Rio de Janeiro. Cumprimentou os participantes da mesa, inclusive Paulo André, e caminhou tranquilamente para um táxi em frente ao Pacaembu.

Paulo André e Eurico Miranda batem boca durante evento

Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, e Paulo André, zagueiro do Corinthians, bateram boca durante evento do Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol), na manhã desta segunda-feira, em São Paulo. O jogador representava o Bom Senso FC, movimento dos atletas em busca de melhorias no futebol profissional no país. O dirigente representava a FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro). A discussão começou quando Eurico acusou os jogadores de exigirem muitas regalias, como "ar condicionado". Paulo André rebateu, dizendo que os atletas exigem "apenas o mínimo de estrutura". A partir daí, a discussão passou para os altos salários dos atletas de elite.

- É um escândalo o que ganham os jogadores. Quem quebrou o futebol foram os jogadores de elite - disse o dirigente.

Paulo André rebateu, irritado, e com uma acusação: a de que conviveu com ratos e baratas durante sua curta passagem pelo Vasco, em 2002. Na época, o clube ainda era comandado por Eurico.


- Quem inflaciona o mercado são os gestores. O Bom Senso aceita que os jogadores ganhem menos. Não adianta vir com coronelismo, com ideias ultrapassadas. Eu joguei no Vasco por três meses em 2002 e morava com rato e barata.

A discussão continuou. Eurico ironizou a qualidade técnica do zagueiro e passou a defender o clube carioca.

- Você está com uma visão deturpada. Você conhece rato? Você deve ver rato na praia e na sua casa. Você está desrespeitando uma instituição centenária. É uma ofensa gravíssima. O Vasco formou jogadores como Romário e Edmundo, e não é Paulo André, não! - disse Eurico.

- Teve uma oportunidade rara de jogar no Vasco. 2002 é minha época, e minha época não tinha disso, não! Esse é um assunto demagógico - emendou o dirigente.

Paulo André e Eurico Miranda batem boca em evento do Sindicato dos Atletas

Discussão acontece em evento realizado no Museu do Futebol, em São Paulo

02 de dezembro de 2013 | 13h 33

Gonçalo Junior - O Estado de S. Paulo


SÃO PAULO - O zagueiro Paulo André, um dos líderes do Bom Senso, movimento que busca melhorias nas condições de trabalho dos jogadores, e Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, discutiram asperamente durante simpósio sobre mudanças no futebol realizado na manhã desta segunda-feira no Museu do Futebol, em São Paulo. O bate-boca começou quando Eurico falou da condição dos alojamentos na época em que ele comandava o Vasco. "Quem gosta de ar condicionado é jogador de primeira grandeza. E hoje eles falam que precisam habituar os novos assim, desde cedo", disse o ex-presidente.

Em resposta, o jogador corintiano criticou as instalações do Vasco, onde jogou por três meses em 2002. "Eu convivi com ratos e baratas no alojamento do Vasco. Respeito a instituição, mas vivi isso e precisamos melhorar essas condições para todos os jogadores", criticou Paulo André. Nessa época, Eurico Miranda é chefão no Vasco.

Eurico Miranda respondeu em seguida, de maneira enfática. "Isso é impossível. É uma ofensa a uma instituição centenária. Rato deve ser comum na Europa ou na casa dele. O que ouvi aqui foi uma ofensa gravíssima a uma instituição centenária, que não produziu Paulo André, não. Faço uma relação de Romário e Edmundo, faço uma relação de centenas de jogadores, que não tem nada a ver com Paulo André", criticou o mandatário.

A discussão ocorreu durante simpósio organizado pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais (Fenapaf), que teve a presença de atletas profissionais, representantes das entidades sindicais, dos clubes, do Ministério do Esporte, CBF e Rede Globo, em um debate sobre o futebol brasileiro. Eurico Miranda substituiu o presidente da Federação Carioca de Futebol, que não pôde comparecer ao evento. Por diversas vezes, o cartola afirmou que não gostaria de estar no encontro.

"Não vim aqui para elogiar o Bom Senso. Também sou contra a CBF. Sou contra qualquer tipo de radicalizações", disse Eurico, que saiu antes do fim do evento alegando compromissos no Rio. O zagueiro ficou preocupado com a repercussão negativa da discussão. "O foco não é esse."

Na mesa para o debate estavam também Rinaldo Martorelli, presidente da Fenapaf, Ocimar Bolicenho, presidente da ABEX, Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba, Marco Aurélio Cunha, ex-dirigente do São Paulo, Luiz Ademar, presidente da ACEESP, Turíbio Leite, fisiologista consultor da Fenapaf. Andrés Sanchez, responsável pela construção da Arena Corinthians, participou apenas da abertura do evento.


HORÁRIO DOS JOGOS
Um dos destaques do evento foi a apresentação da pesquisa "Jogos Simulatórios 2014", estudo conduzido pela Fenapaf e pelo Sindicato dos Atletas de São Paulo, que simula os efeitos das altas temperaturas nos jogadores de futebol no contexto da Copa do Mundo. Vinte e quatro partidas da Copa estão marcadas para as 13 horas. O estudo foi apresentado para a Fifa na semana passada pelo presidente da Fenapaf.

Com o levantamento científico, a entidade pretende criar uma documentação que sirva como referência para a Fifa. "Não existem dados que possam servir como base de estudo", explica o fisiologista Turíbio Leite de Barros, coordenador da pesquisa e um dos mais renomados especialistas do Brasil em Fisiologia do Exercício.Os resultados da pesquisa não foram divulgados, pois o Sindicato prefere aguardar o pronunciamento oficial da entidade máxima do futebol.

Fonte: Estadão

domingo, 1 de dezembro de 2013

Paulo André lamenta 'jogo fraco' do Timão, mas exalta show da torcida

Zagueiro destaca despedida de Alessandro e Tite no Pacaembu em empate sem gols contra o Internacional, neste sábado: 'São dois caras que fizeram história'


Por Diego Ribeiro
São Paulo


O Corinthians ficou no empate sem gols com o Internacional, na noite deste sábado, no estádio do Pacaembu. Foi o último jogo do Timão como mandante no Campeonato Brasileiro e também do técnico Tite e do lateral Alessandro diante da Fiel. Satisfeito com a festa da torcida, o zagueiro Paulo André exaltou o clima proporcionado pelos alvinegros, mas também destacou o baixo nível técnico da partida.

– São dois caras que fizeram história, e queríamos uma vitória para fechar a história bonita desses dois personagens que ganharam tudo no clube. É um ciclo que se encerra. O jogo foi fraco, e o maior show foi o da torcida – afirmou o defensor.

Tanto Alessandro como Tite foram ovacionados antes e depois da partida pelos 33.201 corintianos que foram ao Pacaembu. O lateral e o técnico receberam placas providenciadas pela diretoria, para imortalizar as respectivas passagens pelo clube do Parque São Jorge.

Pouco efetivo dentro das quatro linhas, o Timão passou a pressionar mais o Inter no segundo tempo, quando Willians foi expulso. Porém, a despedida dos dois ídolos na capital paulista acabou com o 17º empate da equipe neste Brasileirão. Décimo colocado, com 50 pontos, a equipe fecha a temporada no próximo fim de semana, sem qualquer pretensão restante na tabela de classificação.

Como a partida contra o Náutico, que já está rebaixado, não terá qualquer efeito para o fechamento do campeonato, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) antecipou o confronto para sábado, dia 7 de dezembro, na Arena Pernambuco. O horário do duelo ainda não foi confirmado pela entidade.


Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com