terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Líder do Bom Senso FC, Paulo André cita amizade e inspiração em Sócrates

Em alta por conta do movimento dos jogadores, zagueiro do Timão conta histórias da relação que manteve com o símbolo da Democracia Corinthiana

Por Leandro Canônico
São Paulo

Um dos idealizadores do Bom Senso FC, movimento de jogadores em prol de mudanças no futebol brasileiro, o corintiano Paulo André está em evidência por sua postura política. Por conta disso, ele costuma ser comparado a Sócrates, ídolo do Timão e um dos líderes da Democracia Corintiana na década de 80. A relação entre eles, aliás, existiu. E foi de amizade. Desde o primeiro encontro.

– Conheci o Sócrates por causa da proximidade que tinha com sua última esposa, a Katia. O casal me convidou para jantar em Campinas, no final de 2009, e ficamos horas na mesa falando de futebol. Dali pra frente, nós mantivemos contato direto e frequente – conta o zagueiro do Corinthians.

Foto: Reprodução/Globo Esporte

Paulo André era íntimo de Sócrates, morto em dezembro de 2011, no mesmo dia em que o Timão conquistou o pentacampeonato brasileiro. Naquele mesmo ano, em fevereiro, um episódio triste na história alvinegra marcou a relação entre os dois: a eliminação precoce do clube na Taça Libertadores da América – o Corinthians caiu para o então desconhecido Deportes Tolima, da Colômbia.

Inconformado com os violentos protestos dos corintianos após a eliminação, Paulo André publicou em seu site oficial, três dias depois da derrota, um texto com o título “Verdadeiro Amor”. Nele, o zagueiro colocava em xeque o amor pelo Corinthians por parte dos vândalos que atiraram pedras no ônibus da equipe. O texto gerou muitas críticas e elogios ao jogador. Sócrates avisou que seria assim.

– Depois de tudo aquilo que passamos, de ter que sair escoltado do CT, de ter que ir deitado no chão do ônibus para não ser atingido por pedras, eu resolvi escrever um texto sobre o amor pelo clube. Mas antes liguei para o Sócrates. Ele pediu que eu enviasse por e-mail e fosse à casa dele. Cheguei lá e ele me pediu para ler um texto que ele tinha escrito sobre o amor do corintiano – diz Paulo André.

Atento, o zagueiro leu o que Sócrates tinha escrito e entendeu o recado.

– Ele não se posicionou em relação ao texto que eu publicaria no meu site, mas me mostrou algo que tinha escrito sobre o DNA do corintiano e me alertou que, independentemente da minha opinião, eu jamais poderia colocar algo acima da paixão do corintiano e que a decisão de publicar ou não seria minha – lembra.

Paulo André escolheu publicar e se assustou com a repercussão. Mas assimilou algo que Sócrates dizia nas entrelinhas durante todo o período em que tiveram contato.

– Ao longo da nossa amizade, ele me mostrou que, independentemente do lado que eu escolhesse, me posicionando ou calado, receberia críticas e elogios. Então porque não tentar fazer ou falar aquilo que eu realmente pensava? Ele me mostrou também que eu tinha de dar a minha opinião enquanto estou jogando, porque depois que eu parar ninguém mais vai querer saber o que eu penso – diz Paulo.

O zagueiro tem feito isso. Aproveita bem a visibilidade que tem como titular do Corinthians para expor suas opiniões e levar adiante projetos de melhoria para o futebol brasileiro, como o Bom Senso FC. Na linha de frente do grupo criado com o intuito de pressionar a CBF em busca de condições mais adequadas, Paulo André tem contrato até dezembro de 2014. Até lá, ele espera ver resultados concretos.

– Acho que quando nós, brasileiros, passarmos da reclamação para a ação, quando deixarmos de apontar o dedo e usarmos as mãos para construir um futebol melhor, um país melhor, as coisas serão diferentes – diz  Paulo André.

Sócrates certamente ficaria orgulhoso do seu amigo e fã.

Foto: Rodrigo Faber

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