quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um ano da Libertação

Já faz um ano, mas parece que foi ontem. Fogos de artifício estouravam no bairro onde moro já na noite anterior. A palavra do dia era ansiedade, que só aumentava cada vez que alguém soltava fogos de artifício esporádicos. O dia custou a passar, mas, quando o fim do expediente, às 18 horas, finalmente chegou, veio junto um alívio momentâneo. Aquela era para ser uma quarta-feira qualquer, mas não era. Não foi. Para ninguém. Aquela quarta-feira, 04 de julho de 2012, era o dia da final da Copa Libertadores da América, entre Corinthians e Boca Juniors.

Durante a volta para casa, mesmo do ônibus, podia sentir uma certa expectativa no ar. Em muitos bares e padarias, onde houvesse uma televisão, corinthianos já se reuniam, devidamente fardados. Transeuntes, passageiros de ônibus, comerciantes, eles estavam em toda a parte. Todos muito confiantes. É claro que os anticorinthianos estavam por lá também e, embora tentassem demonstrar que tinham a esperança de ver o Boca Juniors campeão da "Liberta", acho que no fundo sabiam que a hora do Corinthians finalmente havia chegado.

Eu já sabia disso, já acreditava nisso desde dezembro de 2011. Por algum motivo que desconheço, quando se sagrou Pentacampeão Brasileiro, eu senti que o Corinthians tinha tudo para conquistar o primeiro título da  Libertadores. O time era bom, unido, entrosado. O segredo era não se pressionar tanto, não ir com tanta sede ao pote - o que foi o grande erro das participações anteriores. Foi justamente este o grande trabalho da comissão técnica do Timão. Era só ter tranquilidade que o título seria nosso. Mesmo assim, fiz muito esforço para não alimentar minhas esperanças, para que a decepção não fosse tão grande.

Como não lembrar a trajetória? Depois de uma fase de grupos tranquila, mas não tão empolgante, veio o mata-mata. O Corinthians passou teve alguma dificuldade para passar pelo Emelec (EQU), mas o grande desafio mesmo estava nos quatro jogos seguintes, nos quais enfrentaria dois times brasileiros: o Vasco, o então campeão carioca, e, caso passasse para as semifinais, o Santos, o campeão paulista e um dos favoritos ao título das Américas.

O primeiro jogo contra o time carioca foi horrível. Havia chovido muito no Rio, o que com que o gramado de São Januário se transformasse em um lodaçal, sem quaisquer condições de jogo. Como consequência, um 0x0 sem graça, adiando a decisão para a semana seguinte, em São Paulo. Na maior parte do tempo o placar não saiu do zero, dando a vaga para o Vasco, até que Diego Souza roubou a bola no meio de campo e correu em direção ao gol, prestes a estragar o sonho corinthiano. Foi nesse momento que uma estrela brilhou. Numa situação dessas, qualquer goleiro teria saído da meta para impedir que o atacante, o que resultaria em um gol ou um pênalti. Mas Cássio, que havia ganho a vaga de Julio César depois da falha nas quartas-de-final do Paulistão contra a Ponte Preta, deu alguns passos para a frente, espero que Diego Souza chutasse e, com as pontas dos dedos, mandou a bola para a fora, para espanto e alegria de todos os corinthianos que lotavam o Pacaembu, inclusive um ilustre que resolvera experimentar um pouco da vida de torcedor. Mas o melhor estava por vir. Aos 43 minutos do segundo tempo, Paulinho, de cabeça, marcou o único gol do jogo e, para delírio da Fiel, levou o Corinthians às quartas de final da Libertadores. Ele ainda recebeu um abraço de um torcedor que estava no alambrado, representando o sentimento de mais de 30 milhões de loucos pelo Coringão.

Mais sofrimento e emoção estavam reservados para o jogo seguinte, na Vila Belmiro, contra o Santos, que tinha Neymar e Ganso, este praticamente arrancado do departamento médico só para enfrentar o Corinthians. Tudo nos conformes até que aos 28 minutos do primeiro tempo, Emerson Sheik, mais uma estrela a brilhar, acertou um chute perfeito no ângulo do goleiro Rafael, anulando qualquer chance de reação do rival. Um legítimo gol de placa (aliás, cadê?). No dia do jogo de volta, eu estava fora de casa, numa reunião com umas amigas minhas que acabou demorando mais do que o previsto. Com isso, perdi grande parte do jogo de volta no Pacaembu. Neymar estava disposto a reverter a vantagem corinthiana e, durante alguns minutos, até conseguiu, marcando 1x0 para o Santos. Porém, Danilo estava na hora certa e no lugar certo para empatar o jogo, enquanto eu estava no ônibus de volta para casa,ansiosa por voltar. Pela primeira vez em sua história, o Corinthians chegava à final da Libertadores da América. Foi a partir daí que muitos corinthianos acreditavam que o sonho, enfim, se tornaria realidade. Ainda assim, os antis não desistiriam de secar até o último instante.

Veio o dia 27 de junho e com ele o primeiro jogo da grande final com o Boca Juniors, o tal bicho-papão que, entre outros times, havia eliminado o Fluminense, além de ganhar três Libertadores contra Palmeiras, Santos e Grêmio. É de conhecimento geral a grande dificuldade que é jogar em La Bombonera, devido à pressão que os Xeneizes (como os torcedores do Boca são chamados) impõem ao time visitante, mas alguém do time do Corinthians pareceu não ter sentido efeito algum. Depois que os argentinos abriram o placar aos 27 minutos do segundo tempo, gol de Roncaglia, Romarinho, aos 39, entrou em campo no lugar de Jorge Henrique, recebeu um lançamento de Emerson e, com toda a tranquilidade do mundo, como se estivesse jogando no campinho de sua casa chutou na saída de Orion, empatando o jogo e calando La Bombonera (Olha o Romarinhoooooo!). O título seria definido no Pacaembu.

Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com

E, finalmente, uma semana depois, o dia da grande final. Depois de um dia arrastado, cheguei em casa ouvindo mais fogos de artifício. Nem fui para academia, para poder estar em casa na hora certa pro jogo. Queria vestir uma camisa do Corinthians, mas acabei não a encontrando. Melhor, porque eu não havia usado nenhum manto durante todo o campeonato e não usaria naquele último jogo. Naquela noite, alguns vizinhos corinthianos e santistas estavam fazendo um churrasco pré-jogo no salão de festas do nosso condomínio (nós tínhamos feito isso no segundo jogo contra o Santos). Comi um pouco e, quando o juiz apitou o início da partida, soltei meu VAI CORINTHIANS e assisti ao jogo, desejando estar no Pacaembu.

Confesso que estava menos nervosa do que achei que estaria, mas também não estava tranquila. Eu esperava qualquer coisa do Boca Juniors, menos jogar da forma que jogou. Ou melhor, que não jogou. Pareceu que eles ficaram intimidados com a torcida apoiando o Corinthians o tempo inteiro. Já o Corinthians jogou como nunca, na humildade, nunca se deixando levar pela catimba argentina. Mesmo assim, o resultado não dava o título a ninguém, mas no fundo sabia que o gol (e o título) do Corinthians era só questão de tempo. E eles vieram.

No segundo tempo, logo aos 8 minutos, Emerson abriu o placar após um lindo passe de Danilo. Saí do salão de festas e comecei a gritar feito louca. Por mais que eu acreditasse na vitória do Corinthians, aquele momento parecia surreal para mim. De repente, a Libertadores parecia tão fácil... Mesmo assim, eu queria mais; 1x0 não era o suficiente. E 15 minutos depois, novamente ele, Emerson, roubou a bola do meio de campo depois do passe errado de Schiavi, saiu correndo em direção ao gol de Sosa e, com um chute certeiro, escreveu seu nome na história do Corinthians. Fatura liquidada. Ainda sobrou tempo para ele bancar o catimbeiro, morder mãos, fingir ter medo dos argentinos...



Daí até o fim do jogo foi uma eternidade, mas depois disso foi uma festa só. Os santistas e outros "secadores" observavam a televisão estarrecidos, enquanto os corinthianos só festejavam. Eu saí correndo novamente pelo condomínio, gritando "CHUPA TODO MUNDO!". No bairro parecia ano novo, de tantos fogos de artifício que se soltavam. Minha mãe e eu saímos pra rua enroladas com uma bandeira do Corinthians. Um homem, saindo de outro condomínio, nos viu e nos abraçou bem forte e beijou (até hoje não faço de quem ele seja). Fomos para a rua da frente comemorar com outros corinthianos desconhecidos. Alguns minutos depois, minha mãe e eu voltamos para casa a tempo de ver Alessandro levantar a taça que muitos gostavam de afirmar que o Corinthians nunca teria. 14 jogos, 8 vitórias, 6 empates. O Corinthians era campeão invicto da Libertadores da América, e se há um sentimento que pode definir esta conquista, é alívio. Era o ano de 2012, o "fim do mundo"; todavia, o mundo não podia terminar sem que o Corinthians disputasse o Mundial de Clubes da Fifa. Mas isso é uma outra história.

04 de julho de 2012. Dia da independência dos Estados Unidos. Dia da libertação do Corinthians. O dia em que todas as piadas que se faziam do time deixaram de ser contadas. O dia em que o Timão ganhou, de maneira convincente e merecida, o primeiro (de muitos que virão) título da Libertadores da América. O dia em que o Corinthians calou a boca de todos.

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