quarta-feira, 26 de março de 2014

Blog do Juca Kfouri: "Paulo André chuta o balde!"

Fonte: UOL


Diretamente da China, o zagueiro Paulo André, um dos líderes do Bom Senso FC, respondeu por escrito às perguntas do repórter Cosme Rimoli, que as publicou em seu blog, aqui reproduzidas:

Você era o grande líder do Bom Senso no país. Quem melhor se expressava. Teve proposta para ir jogar na Itália, não foi. Depois acerta com a China, logo depois da invasão de vândalos no Corinthians. Tudo ficou solto e parecendo represália sua pela maneira com que o futebol é conduzido no seu ex-clube, no Brasil…

Eu já havia recebido duas ofertas da Europa e estava pesando os prós e os contras desde dezembro. A paixão pelo Corinthians, a minha história no clube, a qualidade de vida que eu tinha em São Paulo e a luta pelo Bom Senso me faziam ter a certeza de que não seria 50 mil a mais ou 50 mil a menos que me fariam largar tudo e ir embora para outro país. No dia 10 de janeiro entrei na sala do Mano Menezes e expus com transparencia o que estava acontecendo. Eu estava com 30 anos, havia tido lesões sérias ao longo da minha carreira e eu precisava de uma posição dele e do clube quanto a prorrogação do meu contrato. Deixei claro que eu não estava ali para pedir aumento. Eu queria estender o contrato para ter estabilidade já que os italianos me ofereciam dois anos e meio de contrato e no Corinthians eu tinha apenas mais onze meses. A renovação ou a saída representavam, provavelmente, meu “último bom contrato” e como eu havia terminado 2013 muito bem, era a hora de fazer isso. Edu Gaspar recebeu meu empresário e pediu uma semana para dar uma resposta. Por confiar demais, esperei até o dia 31 de janeiro, a janela de transferencias para a Europa se fechou e consequentemente acabei perdendo o negócio. Então quando surgiu a proposta da China, estava muito claro para mim o que eu deveria fazer. Fui ao clube e pedi para ser liberado. O pior cego é aquele que não ver ver. Simples assim.

Que sentimento domina a sua alma ao saber que só três pessoas foram detidas entre as quase 200 que invadiram o CT do Corinthians? E elas acabam de ser liberadas, com o juiz garantindo que elas só queriam mostrar seu amor ao clube? Sinceramente…

É a porra do Brasil, como diria Renato Russo. A declaração do juiz foi desastrosa, ele não tem ideia do que passamos naquele fatídico dia. Ele está incentivando novas ações como essa. É uma vergonha. A impunidade é o grande mal do nosso país. Essa semana o presidente do Comercial de Ribeirão Preto deu entrevista dizendo que não pagaria seus atletas, seu segurança ameaçou os jogadores com uma arma e nada vai acontecer. Precisa de mais alguma confissão para o cara ser banido do futebol? E ainda veremos mais 3 ou 4 casos de ameaças e agressão a atletas de futebol no Brasil esse ano. Pode escrever. Até o dia em que alguém morrer. Daí aparece um promotor/justiceiro para cuidar do caso. O Brasil é o país do deixa para depois que a gente resolve. Lembre-se de uma coisa: todos os anos quatro times cairão, outros tantos irão jogar muito abaixo das expectativas e apenas um será campeão. Só não assino um papel em branco com essa informação porque quem organiza o campeonato é a CBF e nunca se sabe quantos clubes cairão de verdade.

Por que os treinadores de grandes times e mesmo o Felipão não aderem ao calendário apresentado pelo Bom Senso?

Os treinadores de grandes times aderiram ao Bom Senso. Inclusive participaram do video que o movimento produziu no inicio do ano. Muricy Ramalho, Gilson Kleina, Oswaldo de Oliveira, Vagner Mancini, Renato Gaúcho, Tite e muitos outros apoiaram o movimento publicamente. E agora temos o apoio da Federação dos Treinados e da Associação dos Executivos de futebol. Ou seja, não é possivel que esse tripé que vivencia diariamente o futebol esteja falando besteira e apoiando o lado errado. Eles, historicamente, nunca entraram nesse tipo de discussão e sabemos que não entrariam se não tivessem certeza do que estão defendendo. Mas CBF e as Federações não dão a mínima para isso.

Na proposta apresentada pelo Bom Senso, com até Série E, haverá milhares de jogos entre equipes muito pequenas. Mas que não despertam o menor interesse. Com estádios vazios, como os clubes pagarão esses 12 mil jogadores?

Cosme, o Bom Senso está preparando essa resposta para dar de forma oficial. Então não vou adiantar nada aqui, tudo bem?

No começo muita gente considerava o BS um movimento elitista. Mas os clubes grandes não são os grandes massacrados no calendário brasileiro nas últimas décadas?

Todos os clubes tem sido massacrados. Uns porque jogam demais e outros porque jogam de menos. Só algumas poucas pessoas continuam ganhando com esse caos ao longo de todo esse tempo. O que não entendo é porque os clubes tem tanto medo de retaliação. Parece que estão se posicionando contra a máfia nos seus tempos aureos. Quando os clubes entenderem que vendem o mesmo produto e que são aliados fora de campo, veremos uma luz no fim do túnel. Não há Grêmio sem Inter ou Inter sem Grêmio. Não há Atlético sem Coritiba ou Coritiba sem Atlético. E assim por diante…

Há como fazer um calendário decente sem afetar o desejo da televisão? Seja a Globo ou quem for a dona dos direitos de transmissão não irá pensar primeiro na sua grade de programação?

Mas essa é uma questão clara. A Globo está no negócio para ganhar dinheiro. Ela não quer saber se os jogadores recebem em dia, se a qualidade está boa ou poderia ser melhorada, muito menos se os estádios estão cheios. E o pior é que ela está no direito dela. Quanto mais endividados e dependentes forem os clubes, menos ela pagará pelo campeonato e mais mandará em tudo. O que eu não entendo é a CBF não se preocupar com tudo que envolve o futebol brasileiro. Desde a qualidade dos gramados, a iluminação dos estádios, as instalações da imprensa, a segurança dos torcedores, o horário de jogos, a super dependência de seus filiados aos direitos de transmissão da TV, o adiantamento descabido desses direitos, a falta do pagamento aos atletas, a falta de pagamento dos impostos ao governo, a capacitação de gestores e treinadores que ditarão os rumos do nosso futebol, a formação de novos atletas à moda brasileira, etc… Ela diz não ter nada a ver com tudo isso. Tem que ficar claro que a CBF tem uma responsabilidade gerencial e social sobre o futebol que é estatutária, ela não pode se fazer de simples intermediária e se isentar de mexer nas feridas ou de desenvolver soluções para os nossos problemas. Até porque o resultado de tudo isso é o afastamento de pessoas e empresas sérias do meio do futebol e a desvalorização do produto final que é razão da existencia da própria entidade. Mas como a Seleção vai bem, e vende patrocinio a torto e a direito, que se danem os outros. Quanto ao calendário, não existe um ideal mas há muitos que são melhores do que o atual e dá pra trabalhar com a TV num modelo ganha-ganha. Basta vontade política para tal.

Adequar o calendário brasileiro ao europeu não seria muito melhor aos clubes grandes?

Sem dúvida nenhuma. Essa é uma opinião pessoal minha. Para fortalecer o futebol brasileiro, aumentar o intercambio de experiencias e a visibilidade dos nossos clubes lá fora, é necessário adequar o nosso calendário. O primeiro problema é que mexer nesse vespeiro é ir diretamente para o choque com a TV GLOBO. O Marcelo Campos Pinto diz que dezembro e janeiro a audiencia do futebol é muito baixa e isso ocasionaria uma redução das cotas dos anunciantes. Consequentemente o direito de transmissão pago aos clubes seria menor. É assim que se emperra a máquina. Os clubes não querem menos dinheiro no curto prazo e então ninguém se mexe a partir dessa primeira questão. Isso é verdade? Há números que comprovam isso? O que explica o sucesso da Premier Ligue? E o segundo grande problema é que teria que haver uma completa mudança nas datas da Comenbol já que historicamente as datas da Copa Libertadores avançam até julho, enquanto na Europa as competições se encerram no final de maio. A Comenbol é outra parada dura. Teríamos que convencer a CBF a peitar a Globo e a Comenbol de uma só vez. Estudamos isso incansavelmente e preferimos propor, devido a urgência da necessidade, um calendário customizado, com pouquíssimas alterações nas principais competições e que pudesse ser aplicado ou implementado apenas com a decisão da CBF e dos clubes brasileiros, sem atrapalhar a TV Globo.

As Copas Estaduais propostas pelo Bom Senso não estão sendo levadas em consideração pelos presidentes de federações. Eles não abrem mão da base que os possibilita ficar no poder: os clubes pequenos. E agora?

Já passou da hora dos clubes pequenos se rebelarem. Até quando vão aguentar isso que lhes é oferecido? Conversei com vários presidentes, nenhum deles está feliz. Mas aí você vê que os presidentes das federações se mantém no cargo por aclamação. Alguma coisa está errada, não? Os clubes juntos tem muita força mas a desunião deles é que sustenta o poder das federações. Enquanto cinco ou seis aceitam o risco da mudança, 20 ou 30 encostam nas federações para conseguir vantagens, empréstimos etc… E vivem essa vida modorrenta de jogar três meses por ano. É um modelo fadado ao fracasso, infelizmente.

Os jogadores têm medo de optar pela greve? Vocês não deixaram o trem passar logo depois da invasão ao CT do Corinthians? Foram sabotados pelos clubes do interior? Os jogadores não tiveram coragem de enfrentar os dirigentes que os ameaçavam de demissão? Ou dentro do Corinthians houve atletas que não queriam greve para não ter mais problemas com torcedores como o Emerson?

Dentre os jogadores do Corinthians, sustentamos (todos) a paralisação até domingo as 13:30h (o jogo estava marcado para as 16h) mas o clube não estava com a gente. O diretoria estava com medo das possíveis punições. Não nos sentimos respaldados e acabamos cedendo muito mais pelo desespero nos olhos dos amigos da diretoria do que pela nossa vontade de ir para o jogo. E essa posição da diretoria do Corinthians após a invasão do CT acabou por não convencer atletas importantes de outros times de que deveríamos parar. Esses jogadores pediam uma posição mais firme para que pudessem bancar os riscos de uma greve que se apresentava sem suporte legal. E sem a adesão dos jogadores de renome, não havia como pedir para que os atletas do interior parassem também. Há de se lembrar que os atletas do interior foram extremamente pressionados por seus presidentes (que receberam, um a um, ligação direta do Sr. Marco Polo Del Nero) e preferiram não colocar em risco suas carreiras e seus futuros naquele momento. Quem propôs a greve foi o sindicato dos atletas de são paulo. O Bom Senso não se pronunciou oficialmente naquele momento já que havia decidido que não atrapalharia o andamento dos estaduais pois essa é a única opção de milhares de atletas jogarem, receberem e aparecerem para os grandes clubes. Mas a meu ver, a greve será a única solução para pressionar o status quo a buscar soluções no curto prazo.

O movimento Bom Senso não buscou o apoio de jogadores jovens e importantes como Neymar, Oscar, Lucas, Ganso? Ou eles não se interessaram? A principal ‘acusação’ de membros da CBF e até de gente como Eurico Miranda é que o movimento é de jogadores ricos e em final de carreira, que só querem atenção perto de largar o futebol e sonham em ser dirigentes, políticos?

Você deve se lembrar que quando houve greve na Espanha, há dois anos, quem estava sentado na mesa de negociação e quem dava as caras na imprensa eram oito dos principais jogadores da seleção espanhola. Foram eles que tomaram a frente do processo e disseram que não entrariam em campo em solidariedade aos demais companheiros de outros clubes que estavam com salários atrasados. Na NBA há alguns anos a greve também foi comandada pelos seis principais jogadores da liga. Não tenho dúvida de que apenas os grandes jogadores, com prestigio e história é que podem sustentar uma posição de confrontação com as entidades. Esse tipo de atleta não será ameaçado ou retaliado descaradamente. Todos os outros serão, sabemos disso. Quanto aos jovens, o movimento é democrático, é público. Entra quem quer. Ninguém é forçado a nada. Quando éramos jovens também não participamos ou não participávamos das principais decisões porque tínhamos medo de retaliação, porque estávamos preocupados com a nossa carreira e com as nossas oportunidades. A geração anterior a nossa era alienada ou desinteressada e não parou um segundo para pensar nos que vinham depois deles. Alguns estão na TV hoje, falando abobrinhas como se tivessem feito alguma coisa importante (extra campo) quando tinham notoriedade e representatividade para tal. Já Neymar, Lucas e Oscar estão estabilizados financeiramente mas tem uma Copa do Mundo pela frente e os outros jovens, instáveis economicamente, não discutirão com os poderosos nem se posicionarão contra eles. É mais do que entendível isso. Mas é oportunista a CBF e os Euricos dizerem que o movimento é de velhos que querem atenção. Parece que estão falando de si próprios. É uma tentativa ridícula de ludibriar o publico para mascarar sua inoperancia administrativa e o desrespeito para com as estrelas que produzem, com suor e trabalho, o futebol brasileiro. Freud explica. Só se tem medo do que há dentro de voce. Como eles têm muitos interesses nos cargos políticos do futebol, eles acreditam que todas as outras pessoas também devam ter. Então será impossível explicar-lhes ou faze-los entender que um bando de atletas consagrados representando mais de mil jogadores resolveu contribuir com o aperfeiçoamento do esporte no país, por paixão e vontade de deixar um caminho mais saudável para quem está por vir. Diferentemente dos atletas, esses personagens não são os produtores mas sim, os exploradores do futebol brasileiro. E exatamente por esse motivo, não dá pra entender como a CBF e as Federações (que vivem do espetáculo produzido pelos atletas) desrespeitam os jogadores e não dão a mínima para suas opiniões e experiências. Estamos falando do Dida, Alex, Rogério Ceni, Juninho Pernambucano, Seedorf, Juan, D’Alessandro, Gilberto Silva, Fernando Prass, Barcos, Lucio Flavio, e tantos outros…. Quem são Marin e Marco Polo? Quem é Novelletto para falar uma asneira por semana? Tiveram sucesso em suas administrações? O interior de São Paulo está jogado as traças. O interior do Rio Grande do Sul nem se fala. É esse modelo atual que eles defendem? Me parece que sim porque estão todos muito satisfeitos. São verdadeiros dinossauros que não fazem ideia do que acontece no futebol atual mas que estão dispostos a tudo para continuar a mamar nas tetas da vaca. E o povo, revoltado com a sua própria desgraça diária em um país que não oferece o mínimo necessário, ao invés de perceber a força e a importância desse movimento (como exemplo) para a sociedade que precisa reclamar coisas mais importantes (evidentemente), trata de gastar energia para discriminar alguns atletas (2% do total) que recebem salários privilegiados. Só que por ignorância esse mesmo povo aceita passivamente a exploração e a má gestão do produto que ele ama e consome. Isso sim é uma coisa de maluco para mim!

Sua ida à China enfraqueceu o movimento. Alex está muito mais contido do que no início do movimento. Falta carisma ao Dida e ao Fernando Prass. Rogério Ceni mais desabafa do que propõe. Você ficou dividido entre o sucesso financeiro da transferência ao Oriente e sua importância no futuro do futebol brasileiro?

Acho que expliquei isso na primeira resposta.

No Corinthians eu havia descoberto um desconforto à sua permanência. Mano não queria que você fizesse o time perder o foco do futebol. Mario Gobbi, rompido com Andrés, queria ficar mais perto de Marin. A sua presença atrapalhava. Você percebeu o cenário?

O que percebi é que eles não propuseram uma prorrogação do contrato. Quais os motivos para isso eu não sei. Quanto ao Mano, ele havia conversado comigo sobre as entrevistas. Eu havia dito que tomaria cuidado para não atrapalhar o grupo mas que o meu caminho de contestação e de exposição não tinha mais volta. Eu durmo tranquilo todos os dias porque não deixei, em momento nenhum, de seguir a mesma linha de conduta de quando iniciei minhas críticas ao Ricardo Teixeira lá atrás.

Você ficará dois anos na China. Terá 32 anos, quer voltar para jogar no Brasil ou tentará ser dirigente, político?

Não sei. Aprendi que fazer planos é uma perda de tempo irrecuperável para a nossa vida. Nunca acertamos o que será de nós.

Muita gente repetiu que o Brasil é um país que não abre espaço para jogadores revolucionários, intelectuais. Foi assim com Afonsinho, Sócrates. Você está sentindo na pele essa situação?

Eu não ouso me comparar a esses craques da bola e do pensamento. Acho que eles atuaram em um momento muito mais dificil que o atual e foram extremamente corajosos e inteligentes. Colhem, merecidamente, os frutos de suas boas atitudes até hoje. Mas não é só no futebol que o povo não abre espaço. O nosso país é o que é porque falta educação de qualidade ao povo. Quem sabe se tivermos mais exemplos de pessoas com notoriedade e representatividade (como vem fazendo os principais jogadores do país com o movimento do Bom Senso) consigamos disseminar a importancia de se participar de ações que visam a discussão e o aprimoramento de tudo que não funciona bem no Brasil. Uma coisa é certa, não adianta ficar em casa com a bunda na cadeira reclamando que a vida é uma porcaria.

Você tem consciência que sua saída do Brasil frustrou muita gente que começava a aderir ao Bom Senso? E por outro lado proporcionou festas na CBF e o sentimento de alívio em vários dirigentes? Você era visto como uma ameaça ao sistema.

As pessoas que aderiram ao Bom Senso continuam acreditando e contribuindo com o movimento. Elas não estavam lá por mim mas porque acreditam na causa e nos valores que defendemos. E assim continuará sendo.

Qual a sua real análise da Copa no Brasil? Qual o legado que ficará para o país? Para os jogadores? O que mudará se o Brasil vencer ou perder o Mundial? Muita gente acredita que será o caos ao futebol interno uma derrota. Concorda?

O futebol brasileiro está quebrado. O mercado foi inflacionado desde o último contrato que a Globo pagou pelos direitos de TV. Os clubes gastaram muito mais do que podiam e agora estão adiantando as receitas de 2015 e 2016. A maioria está com salários ou com os direitos de imagem atrasados. A Copa do mundo deixará estádios lindos que foram construídos com muito dinheiro público. A manutenção desses estádios é uma incognita. Os gastos foram absurdos e abusivos, nenhuma cidade sede entregará o que prometeu. Os legados sociais e esportivos são minimos para a sociedade. Ou seja, não muda nada. Deixamos o bonde da história passar. Quanto ao resultado da Seleção, torço pelos jogadores. Eles receberão uma pressão absurda. Espero que tenham discernimento e suportem bem essa cobrança para que consigam fazer grandes jogos. Há muita coisa em jogo, não se trata só de futebol. O que se repete é que os cavalos de corrida é que terão que carregar toda essa carga no mês de junho.

Qual é o país que adota o melhor calendário para o futebol?

Os países europeus, sem dúvida.

A participação da imprensa está sendo favorável ao Bom Senso? Ou muitos não conseguem entender a sua importância?

A maior parte da imprensa me parece favorável ao movimento. Que cada um contribua da forma que puder. Todos, inclusive a imprensa, tem muito a ganhar com a melhora do espetáculo e do futebol brasileiro.

Dirigentes afirmam que o BS não aceita um teto salarial. É justo ou não fixar um teto para os jogadores?

Em primeiro lugar, o Bom Senso nunca falou sobre este tema com ninguém. O movimento fala sobre jogo limpo financeiro e calendário. Só. Se o jogo limpo financeiro for implantado, os novos contratos serão reajustados de acordo com o mercado e sua realidade. Os jogadores apoiam essa medida. Deu pra entender? Os jogadores sabem que há um risco de redução dos valores mas preferem receber menos para receber em dia. E em segundo lugar, e aqui vai a minha opinião, o mercado ou os bons gestores sabem que há um limite na folha de pagamento que deve ser proporcional a arrecadação do clube. Se o clube arrecada mais, pode pagar mais. Se o clube arrecada menos, deve pagar menos. Todo clube tem uma oscilação de receita dependendo do resultado esportivo do ano anterior, bilheteria, etc… Por isso o valor do “custo futebol”, dizem os especialistas, não deve passar de 70% da receita total. Ou seja, o clube oferece o contrato que quiser para o atleta. Posso pedir um milhão, se ninguém me pagar isso vou ter que reduzir, reduzir, reduzir até achar um valor justo. Só que tem muito dirigente torcedor que na hora do desespero faz cagada e depois põe a culpa no atleta. Chegou a hora de melhorar a política de contratação e de manutenção de elenco. Sou a favor dos contratos por produção. Isso é feita na Europa há décadas e pouquíssimos clubes fazem no Brasil. Que cada gestor consiga montar o melhor elenco possível com o dinheiro que tem. Ah, e outra coisa, jornalistas, empresários e artistas tem teto salarial? Isso é história pra boi dormir.

Você está escrevendo um livro sobre o BS? Seria interessante demais mostrar o quanto é difícil mudar os paradigmas do futebol neste país.

Não estou escrevendo não. Quem sabe um dia. Nesse momento meu foco é aprender mandarim, jogar bem, dar suporte ao Bom Senso e aproveitar a vida na China. Isso toma todo o meu tempo, posso te garantir.

Qual o motivo da violência dos torcedores. O que pensa da atual legislação? Por que tanta impunidade?

Pulei essa.

O quanto você e sua família sofreram com sua postura firme de tomar à frente dessa revolução no futebol brasileiro?

Sinceramente, não sofri nada. Fiz tudo de peito aberto, acreditando piamente no que estava fazendo. Faria tudo de novo. E minha família diz ter muito orgulho. Nos piores dias os amigos mais próximos me ligavam, estavam preocupados com toda a exposição e eu lhes dizia: Estou feliz. Tenho tanta convicção do que estou falando e sei que estou fazendo o que é certo que durmo feito uma criança a noite. Sabem por que? Porque não passo um pingo de vontade. Digo o que penso e defendo os meus ideias utilizando todo o conhecimento e experiência que adquiri aos longo desses 16 anos de futebol. Voces sabem o que é isso? Eu lhes perguntava. E eles diziam que eu era um louco. E por fim eu sempre dizia a mesma coisa – como naquela música que não lembro o cantor – louco é quem não é feliz. Pensando bem, foi exatamente isso que o Doutor Sócrates e meus pais me ensinaram.

Paulo André faz pênalti, e Shanghai Shenhua perde para time de Zizao

Ex-Timão, chinês reencontra zagueiro um dia antes da partida, faz mistério sobre participação no jogo, mas acaba não entrando em campo na vitória do Beijing Guoan


Por GloboEsporte.com
Pequim

O Shanghai Shenhua, que tem como uma de suas estrelas o zagueiro Paulo André, ex-Corinthians, acumulou a segunda derrota seguida no Campeonato Chinês, nesta segunda-feira, ao ser superado pelo Beijing Guoan do atacante Zizao, também ex-Timão, por 2 a 0. O brasileiro fez o pênalti que gerou o primeiro gol da equipe da capital. O defensor vivia a expectativa de jogar contra o antigo companheiro de clube, os dois chegaram a se ver no domingo, prometeram trocar camisas, mas o xodó da torcida alvinegra não participou da partida.

Foto: Divulgação


O primeiro gol do Bejing foi feito aos 39 minutos do primeiro tempo. Zhang Chengdong recebeu na área e tentava passar por Li Wenbo, quando Paulo André apareceu para ajudar na marcação do atacante e acabou o derrubando. Zhang Xizhe cobrou e fez o primeiro dos mandantes. O argentino Batalla ampliou aos oito minutos da segunda etapa.

Com apenas três rodadas disputadas, o Beijing lidera a competição com nove pontos. O Shanghai tem apenas três e ocupa a 10ª colocação na tabela de classificação.

sábado, 22 de março de 2014

Paulo André fala sobre sua saída e dispara: 'Marin e Del Nero ficaram felizes'

Por Gabriela Chabatura - iG São Paulo | 21/03/2014 07:00

Ex-zagueiro do Corinthians e "militante" do Bom Senso FC cutuca os cartolas do futebol brasileiro após ir para China


Paulo André chegou à maior conquista que um jogador pode ter em um clube brasileiro ao sagrar-se campeão do Mundial de Clubes em 2012, no Japão. O título, porém, não foi suficiente para assegurar o futuro dele no Corinthians. Após quase dois anos do título, o zagueiro aceitou a oferta do Shangai Shenhua, da China, e deixou o Parque São Jorge justamente durante um período conturbado depois da invasão de torcedores no CT Joaquim Grava.

Em entrevista exclusiva, ele nega ter se desligado do clube paulista por causa da confusão e provoca o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin, e o vice Marco Polo Del Nero, também presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol).

Reprodução Facebook

Na China, Paulo André já fez dois jogos pelo Shanghai Shenhua - contra o Shanghai Shenxin e Hangzhou - pela Super Liga Chinesa e está de adaptando à nova vida no país. O ex-corintiano tem feito aulas de mandarim e aproveitado o tempo livre para conhecer os pontos turísticos e restaurantes da cidade. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

iG: O que contribuiu para a sua saída do Corinthians? Foi a invasão no CT Joaquim Grava?

Paulo André: Foi uma soma de fatores. Diante de todas as possibilidades que eu tinha no fim de janeiro, a China, o desafio de morar na Ásia, aprender mandarim e a estabilidade financeira eram o melhor caminho a seguir. Estou feliz aqui e encontrei exatamente o que vim buscar.

iG: Logo após a sua transferência para a China, alguns apontaram a sua saída por um conflito político no Corinthians. Segundo o portal R7, o presidente Mário Gobbi não queria um atleta que criticasse a CBF. Isso é verdade?

PA: Nunca chegou para mim essa informação. Recebi o apoio público do presidente Mário Gobbi diversas vezes. Agora não tenho dúvida de que o (José Maria) Marin e o Marco Polo (Del Nero) ficaram felizes quando souberam que eu ia parar de pressioná-los publicamente a cada entrevista. É evidente também que eles não têm nada a ver com a minha decisão de jogar na China. Esta foi uma decisão minha, baseada no aspecto cultural e financeiro. Dentre as opções que se apresentaram naquele momento, essa era sem dúvida a melhor para mim. Agora, se o Marin ou alguém pressionou o Corinthians ou se o Corinthians achava que eu estava prejudicando o clube ou se o meu desempenho dentro de campo por causa do Bom Senso e por isso não quis me segurar ou renovar o meu contrato, eu não tive conhecimento. Seria a teoria da conspiração, e eu torço para que seja apenas uma teoria.

iG: Você foi ameaçado por parte dos torcedores do Corinthians.Sentiu medo em algum momento? As ameaças o impediram de fazer algo?
PA: Todos os jogadores de todos os times grandes do Brasil são ofendidos e ameaçados nas redes sociais e no dia a dia do clube. Esse é um problema sócio cultural brasileiro, e o futebol é uma das principais vias de acesso para a exposição desse problema. Nunca me incomodei com esse tipo de pressão.

Reprodução Facebook

iG: E como está o período de adaptação na China?

PA: A adaptação está ótima. Estreamos com vitória, e a cidade de Shanghai é maravilhosa. Estou sendo muito bem tratado e desfrutando da escolha que fiz.

iG: Como você analisa um clube chinês, cujo o país não tem a tradição no futebol, dispor de uma estrutura tão boa? Você consegue comparar com os clubes o Brasil?

PA: O Futebol chinês está se desenvolvendo. As grandes empresas e os "novos ricos" decidiram investir no futebol e a tendência é que o mercado cresça substancialmente nos próximos anos. A segunda maior economia do mundo não ficará de fora desse bolo. Vai demorar um pouco, mas a China está no rumo certo para desenvolver seus talentos e atingir um bom patamar no cenário do futebol mundial.

iG: No Shanghai Shenhua você reencontrou o Afu. Você pode nos contar como vocês se conheceram?

PA: Quando eu jogava nos juvenis do São Paulo, morava em Cotia, e no centro de treinamento havia uma equipe de chineses que ficaram dois anos fazendo intercâmbio. Dividíamos o alojamento, o refeitório e os campos de treinamento. O Afu era um dos atletas que melhor falava português. Foi muito bom reencontrá-lo aqui e poder contar com a ajuda dele nessa adaptação a Shanghai.

iG: Para finalizarmos, como é a sua rotina no país? Tem tido aulas do idioma? Está conhecendo a cidade nas horas vagas?

PA: Comecei as aulas de mandarim e já estou bem instalado em um apartamento. Sempre que posso saio para jantar. No clube, há um tradutor que fala castelhano por causa dos dois colombianos do time e outro que fala inglês por causa de um jogador sírio. Eu estou sempre entre eles, pegando as informações para não ficar perdido nos treinos e jogos (risos).

Fonte: iG Esporte

Na China, Paulo André segue por dentro do Bom Senso: 'Clubes têm medo do novo'

Por Gabriela Chabatura - iG São Paulo | 17/03/2014 06:00


Ex-zagueiro do Corinthians continua em constante com contato com membros do movimento, e acredita que greve seja necessária para as mudanças no futebol brasileiro. Goleiro Fernando Prass, novo "líder" do grupo em São Paulo, diz que "algo está errado nos campeonatos estaduais"


Paulo André nunca teve medo de bater de frente com os cartolas. Articulado, o zagueiro jamais escondeu sua insatisfação com aqueles que comandam o futebol brasileiro e nem poupou críticas a José Maria Marin, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e Marco Polo Del Nero, vice-presidente da entidade e presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol). Não à toa ele recebeu o rótulo de líder do Bom Senso FC, grupo que reivindica melhorias no futebol do país, e rapidamente se tornou peça fundamental para divulgar as ideias do grupo em São Paulo. Mas será que a saída dele para a China enfraquece o movimento? O iG Esporte traz com exclusividade um bate-papo com o jogador e conta os próximos passos do grupo.

Reprodução Facebook
Nesta segunda-feira, em uma faculdade da capital paulista, o Bom Senso FC apresentará duas propostas para o futebol brasileiro, são elas a do Fair Play Financeira e calendário. Paulo André, que prometeu não abandonar o movimento e está na China desde o dia 17 de fevereiro, está acompanhando tudo e inclusive já sabia data do seminário.

“No dia 17 de março, o Bom Senso apresentará duas propostas ao futebol brasileiro e espero que elas sejam bem recebidas pelos principais atores do esporte no país. Foram seis meses de estudo e muito trabalho por parte dos atletas e especialistas. Sem dúvida, é um modelo muito melhor do que está aí”, revelou o defensor ao iG Esporte.

O ex-corintiano também garante que a força do Bom Senso FC não diminui em nada com a sua saída do país. “Eu acho que o movimento tem uma grande oportunidade de mostrar que não se trata de algo do Paulo André, do Rogério Ceni, do Alex, do Dida ou do Juan. E isso há de fortalecer ainda mais o Bom Senso. Trata-se de um movimento de jogadores de todos os níveis que, na ausência de dirigentes competentes, viram-se obrigados a proteger o futebol brasileiro. Nós poderíamos apenas jogar futebol, mas arregaçamos as mangas e estamos dando a cara para bater”, completou ele.

Somente neste ano, os jogadores que encabeçam o Bom Senso FC realizaram duas reuniões para debater os temas. Com a transferência de Paulo André o Shangai Shenhua, o goleiro Fernando Prass, do Palmeiras, foi quem assumiu o papel de porta-voz do grupo, embora ele mesmo refute o termo. O arqueiro estará no evento desta segunda-feira, ao lado de Dida, do Internacional, e Roberto, da Ponte Preta.

Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação

“Nós temos algumas ideias para discutir aqueles três temas que propusemos o início. Não é que a gente vá trazer uma mudança, uma solução, mas sim alternativas para debater e melhorar a situação do futebol. Nós temos o exemplo do Campeonato Carioca, que é um dos mais tradicionais do Brasil, com o Flamengo jogando para 300 pagantes e o Botafogo para cento e poucos. Então, se juntarmos os quatro clubes grandes e somarmos 12 rodadas, o público não encherá o Maracanã. É muito pouco, e isso não é normal. Alguma coisa não está correndo bem para esse produto não ser atrativo”, argumentou Prass à reportagem.

O levantamento recente que o iG realizou sobre os prejuízos nos estaduais é um dos pontos também debatidos pelos atletas. O fato de os clubes praticamente pagarem para jogar é a exemplificação de uma fórmula ultrapassada, que chegou a ser comparada por Paulo André os primeiros computadores criados pela empresa americana IBM (International Business Machines).

“Os estaduais, no formato atual, foram importantes na construção do futebol brasileiro (devido às distâncias e a dificuldade de locomoção nas décadas de 60, 70 e 80) assim como foi importante o 286, 386 e o 486 para a IBM há 20 anos. Imagine se estivéssemos usando esses computadores porque deles saíram grandes textos do passado. Imagine se estivéssemos usando máquinas de escrever, ficaríamos para trás do resto do mundo, correto? Com o futebol brasileiro ocorre o mesmo. Estamos ficamos para trás por causa de um saudosismo que o mercado não permite mais”, apontou.

“Os dirigentes dos clubes têm medo do novo, tem medo das retaliações que podem vir por parte das federações se eles se manifestarem contrários a formula atual. E a CBF, por sua vez, que deveria zelar pelo futebol e protegê-lo, não tem coragem de mexer nas datas dos Estaduais, porque quem vota para a presidência da entidade são as federações. E esse ciclo vicioso continuará assim até quando chegarmos no fundo do poço, se é que já não estamos nele. A solução é trocar o produto. Não digo que é necessário acabar com os Estaduais, mas deve-se dar um banho de loja. Enquanto os clubes não se unirem, isso será impossível”, declarou Paulo André.

MEMBROS JUSTIFICAM AUSÊNCIA DE AÇÕES NOS ESTADUAIS

Muitos torcedores e até parte a imprensa questionaram o “desaparecimento” do Bom Senso FC no início deste ano, período dos campeonatos estaduais e regionais. Membros do movimento, entretanto, explicam que a ausência faz parte da estratégia adota por eles para não prejudicam os atletas de clubes que não possuem competições no segundo semestre do ano.

De acordo com os próprios números abordados pelo Bom Senso FC, dos 684 clubes, 583 deles não tem um calendário anual, deixando atletas desempregados e submetidos a vínculos curtos de três e/ou quatro meses.

“Ficou entendido de que a manifestação para chamar a atenção foi feita (no fim do ano passado). Não adianta ficarmos fazendo, porque temos de ter atitudes que é apresentar propostas para os problemas que levantamos. Conseguimos a divulgação necessária para o movimento, então acho que esse primeiro passo já foi dado. Começamos uma nova etapa”, alegou Prass.

Paulo André seguiu a mesma linha. “Acreditamos que os Estadual é a única oportunidade de milhares de jogadores atuarem e garantirem seus salários. Não teríamos tido bom senso se tivéssemos paralisado esse campeonato. Mas quando os Estaduais terminarem e 80% dos atletas ficarem desempregados, teremos todos os motivos do mundo para protestar e parar o Campeonato Brasileiro”.

GREVE: O MAL NECESSÁRIO?

Depois de terem descartado a greve no início do Campeonato Paulista, em decisão conjunta com o Sapesp (Sindicato dos Atletas de São Paulo) – hoje parceiro com qual o relacionamento melhorou -, Paulo André acredita que a paralisação se faz necessária para que as mudanças possam acontecer. Ele lembrou dos diversos protestos no país, durante o ano passado, que pediam pela melhoria dos transportes públicos.

“Eu acho que sem ela (greve), nada vai mudar. Os políticos só têm medo de uma coisa: do povo nas ruas. Os dirigentes do futebol só têm medo de duas coisas: paralisação do campeonato e exposição da inoperância de suas funções” falou.

O evento desta segunda-feira está previsto para durar um pouco mais de três horas e já tem as presenças confirmadas de: Fernando Prass (Palmeiras), Dida (Internacional), Roberto (Ponte Preta), Alex (Coritiba), Juan (Internacional) e Rafael Silva (Nacional-MG). É pressão contra os cartolas do futebol brasileiro.

Fonte: iG Esporte

segunda-feira, 17 de março de 2014

Paulo André no Shanghai Shenhua

Confira algumas fotos de Paulo André no Shanghai Shenhua, time chinês que está defendendo há um mês:


Atualmente o Shenhua está disputando a Chinese Super League, ou Super Liga Chinesa. O time estreou com uma vitória sobre o Shanghai Shenxin por 2x0 (com direito a uma bola salva em cima da linha do gol por Paulo André) no dia 09 de março, mas perdeu no sábado (15) para o Hangzou por 3x1. O próximo compromisso Shenhua, em sétimo lugar na classificação, é no dia 24 de março contra o Beijing Guo'an.